O que se sabe sobre ataque que deixou mais de cem mortos na Rússia; Putin diz que autores estão presos

Um ataque com armas de fogo em uma casa de shows na região de Moscou, na Rússia, deixou dezenas de mortos e feridos nesta sexta-feira (22/3).

Ao menos 137 pessoas foram mortas e mais de 140 ficaram feridas no ataque, segundo o FSB (serviço russo de segurança). Não há nenhum registro de brasileiros entre as vítimas.

O atentado foi reivindicado por radicais islâmicos (mais detalhes abaixo). No domingo, quatro homens foram acusados formalmente pelo ataque.

De acordo com as informações iniciais, um grupo de ao menos quatro pessoas armadas, com uniformes táticos, fez disparos na casa de shows Crocus City Hall, enquanto as pessoas aguardavam uma apresentação da banda de rock russa Picnic.

O espaço para shows é conectado a um shopping, e mais de 6 mil ingressos haviam sido vendidos para o show de sexta-feira.

Segundo os serviços de segurança russos informaram ao presidente Vladimir Putin, esses quatro homens armados foram detidos, junto com outras sete pessoas.

Em pronunciamento neste sábado (23/3), Vladimir Putin anunciou que este domingo será um dia oficial de luto e prometeu punir os responsáveis pelo ataque. Ele afirmou que todos os perpetradores já foram encontrados e detidos.

Putin também declarou que eles tentaram escapar em direção à Ucrânia (algo que Kiev nega), e que a segurança do país foi reforçada em resposta.

Chamando o episódio de sexta-feira de “ato terrorista bárbaro”, ele declarou que “nossos inimigos não vão nos dividir”.

Vídeos no local da apresentação em Krasnogorsk, subúrbio de Moscou, mostram pelo menos quatro pessoas atirando indiscriminadamente contra o público, que gritava e tentava fugir.

Segundo as investigações preliminares, os perpetradores também usaram líquido inflamável para incendiar setores da casa de shows.

Os EUA disseram que há evidências críveis de que um grupo afiliado ao autodenominado Estado Islâmico (também chamado de Isis) esteja por trás dos ataques – o grupo de fato reivindicou a autoria. A Rússia não comentou.

Segundo Washington, trata-se de uma ramificação do Estado Islâmico chamada Isis-K, ou Isis-Khorasan, um grupo que tenta estabelecer um califado islâmico em áreas do Afeganistão, Paquistão, Turcomenistão, Tadjiquistão, Uzbequistão e Irã.

“O Isis-K está focado na Rússia há dois anos”, afirmou ao jornal New York Times Colin Clarke, especialista em contraterrorismo baseado em Nova York. “O Isis-K acusa o Kremlin de ter sangue muçulmano nas mãos, em referência às intervenções russas no Afeganistão, na Chechênia e na Síria.”

A Ucrânia, com quem a Rússia está em guerra, negou qualquer envolvimento no episódio.

Entre os feridos no tiroteio estavam crianças, segundo uma autoridade local de Moscou em entrevista a uma agência de notícias russa. Elas estavam participando de uma competição de dança de salão quanto o tiroteio começou. Os pais desses jovens também estavam no local.

Várias explosões foram ouvidas e houve um grande incêndio no prédio, o que causou o desabamento de parte do telhado próximo ao local.

O fogo tomou conta do telhado e da fachada do shopping e fumaça e chamas eram visíveis no horizonte do centro de Krasnogorsk.

Muitas vítimas morreram dos ferimentos a balas, enquanto outras, pela inalação de fumaça tóxica.

Cerca de 100 pessoas teriam sido resgatadas no topo do centro comercial, segundo autoridades envolvidas no resgate.

Um vídeo obtido pela agência de notícias Reuters mostrava um grande incêndio e fumaça saindo do salão onde ocorreu o ataque.

Diversos grupos de forças especiais russos entraram no local.

O Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade pelo ataque em seu canal no Telegram. A postagem do grupo radical islâmico não foi verificada de forma independente.

Os quatro homens presos são Dalerdzhon Mirzoyev, Saidakrami Murodali Rachabalizoda, Shamsidin Fariduni e Muhammadsobir Fayzov. Um deles é um cidadão do Tajiquistão, segundo um comunicado da Justiça russa em um canal no Telegram.

O grupo já realizou ataques em vários países. Mas o correspondente de segurança da BBC, Gordon Corera, lembra que, em outras ocasiões, o Estado Islâmico já assumiu a responsabilidade por ataques com os quais não teve nada a ver.

Em 7 de março, o FSB da Rússia disse ter evitado um ataque a uma sinagoga em Moscou que estava sendo planejado por uma célula do Estado Islâmico.

O FSB disse que os agressores abriram fogo durante a tentativa de prisão e foram “neutralizados pelo fogo rival”, mas poucos detalhes foram fornecidos sobre esse caso.

O FSB, serviço de inteligência russo, emitiu um comunicado afirmando que os responsáveis pelo ataque estavam planejando cruzar a fronteira com a Ucrânia e que teriam “contatos” no lado ucraniano.

A Ucrânia reagiu dizendo que essa informação é “absurda”.

Sarah Rainsford, correspondente da BBC em Kiev, conversou com Andriy Yusov, porta-voz da inteligência ucraniana, que afirmou que a fronteira entre os dois países está “repleta de militares e membros de serviços especiais. (…) É uma linha de frente (da guerra). Sugerir que os suspeitos rumavam para a Ucrânia é sugerir que eles são estúpidos ou suicidas”.

Rainsford explica que, em Kiev, existe o temor de que a Rússia use o episódio desta sexta-feira para escalonar ainda mais a guerra na Ucrânia.

‘Terrível tragédia’

O correspondente da BBC na Rússia, Steve Rosenberg, relata que bombeiros passaram a noite apagando as chamas. E o que era uma das salas de concerto mais famosas do país agora virou uma zona de desastre. Há pessoas levando flores e tributos às vítimas.

O governo da Rússia descreveu o incidente como um “ataque terrorista”. Policiais e bombeiros estão no local acompanhando o caso.

Imagens nas redes sociais mostravam homens armados dentro do centro comercial.

“Todas as medidas possíveis estão sendo tomadas para prestar assistência às pessoas afetadas pelo ataque terrorista”, disse a FSB em nota, ainda na sexta-feira.

O prefeito de Moscou, Sergey Sobyanin, chamou o ataque de “terrível tragédia”. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia classificou o episódio como “um ataque terrorista sangrento”.

A banda de rock Picnic emitiu um comunicado informando que todos os integrantes e membros da sua equipe estão “vivos e seguros”.

“Ocorreu uma tragédia cuja escala ainda não podemos avaliar”, afirmou o comunicado.

O Ministério da Cultura russo divulgou que todos os grandes eventos foram cancelados no país neste fim de semana.

Ucrânia ‘não tem nada a ver’

Um assessor do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse que a Ucrânia, que está em guerra com a Rússia desde fevereiro de 2022, não tem qualquer relação com o ataque desta sexta-feira.

Num post no Telegram, Mykhailo Podolyak disse: “Sejamos claros, a Ucrânia não tem absolutamente nada a ver com estes acontecimentos”.

Governo brasileiro lamenta ataque

O Ministério das Relações Exteriores informou em nota que “não se tem notícia de nenhum cidadão brasileiro vítima do ataque”.

A Embaixada brasileira em Moscou, segundo a pasta, “permanece em funcionamento para atender brasileiros em situação de emergência”.

A pasta expressou condolências e solidariedade “ao povo e ao governo da Rússia e reitera seu firme repúdio a todo e qualquer ato de terrorismo.”

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