
Para celebrar seus 25 anos de história, a Escola de Teatro Bolshoi no Brasil apresenta, neste fim de semana (15 e 16), às 19h30, no Centreventos Cau Hansen, em Joinville/SC, uma produção inédita do icônico balé O Lago dos Cisnes. Essa é a única filial do Bolshoi no mundo, que atualmente conta com 250 alunos de 22 estados brasileiros. Entre os muitos dançarinos está Luís Rego, bailarino que iniciou sua trajetória na instituição em 2017. Natural do Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, ele descobriu sua paixão pela dança aos 14 anos, quando acompanhava a irmã mais nova no balé. A menina não continuou na dança, mas Luís sente que estava destinado a se apaixonar.
“Parecia que ela precisava estar ali para que eu pudesse me apaixonar pelo balé. Ela acabou desistindo, e eu continuei”, afirma o carioca.
Em entrevista ao EXTRA, o rapaz, que hoje é membro da Dance Theatre of Harlem, em Nova York, apareceu vestindo a blusa da Escola de Teatro Bolshoi. Formado na instituição em 2018, Luís mora fora do país há 5 anos e guarda com muito carinho todas as experiências.
— Assim que cheguei naquele lugar, foram transformações do início ao fim. É o caminho perfeito para qualquer pessoa que deseja ser um melhor profissional e ter uma carreira parecida com a minha. É uma estrutura incrível, eles têm a melhor técnica. A escola vai muito além do que só ensinar. Era uma atmosfera muito boa, sinto saudade disso.
O bailarino compartilhou que na Escola de Teatro Bolshoi, eles contam com um sistema chamado “Mãe Social”, onde mulheres abrem as portas de suas casas para receber os alunos vindos de outras cidades.
— Aline Coelho e Vagner Barbosa foram meus pais sociais durante todo o tempo que morei em Joinville. Sou muito grato a eles e muito feliz pela oportunidade que eles me deram de morar e vivenciar coisas maravilhosas na cidade.
Mesmo amando dançar, em muitos momentos Luís pensou em desistir. Dificuldades financeiras, preconceito por ser um homem negro, pobre e de periferia… E, agora, imigrante. O ex-aluno da Bolshoi Brasil, que também passou pela Tivoli Ballet Theatre, na Dinamarca, conta que, apesar de tudo, não mudaria nada em sua trajetória.
— Meu maior desafio foi a aceitação. Muitas vezes eu me sentia rejeitado no ambiente do balé clássico. Sentia que precisava me provar — diz o rapaz, que se inspirou em histórias parecidas com a dele para mudar de perspectiva: — Fez com que eu olhasse para a situação de maneira diferente e dissesse: “Sim, é possível ser um bailarino clássico, mesmo sendo preto e tendo nascido na favela”. Até as coisas ruins fizeram com que eu me tornasse a pessoa que eu sou hoje.
Ao se mudar para Copenhague, como membro da companhia dinamarquesa, ele relata ter tido ajuda financeira para conseguir se manter.
— Foi a primeira vez morando sozinho e em outro país, não sabendo falar ao menos inglês. Tive problema no meu visto de trabalho e não consegui abrir uma conta bancária. Foi um momento difícil, perrengue mesmo. Foram 6 meses, onde diversos amigos se disponibilizaram a pagar as minhas despesas.
Quando o assunto família aparece, Luís leva as mãos ao rosto, sentindo tristeza por estar longe deles há 3 anos. Quando morava em Joinville, município de Santa Catarina, o rapaz chegou a ligar para a mãe algumas vezes querendo voltar para sua casa no Rio, mas ela sempre o incentivava a continuar.
— Ela me dizia: “Aguenta mais um pouco!”. Minha família é minha base, minha inspiração e meu combustível. Estou há 3 anos sem ver os meus pais. Mas este ano estou voltando e ficarei ao lado deles por um mês. Será perfeito!
E o que será que o hoje bem-sucedido bailarino diria à sua versão mais jovem, aquele garotinho descobrindo o amor por dançar?
Eu falaria: “Não deixe que as pessoas tirem de você a sua essência. Porque vão tentar fazer isso. Vão tentar sugar a sua energia, fazer com que você se encaixe numa caixa que criaram para você.”
O carioca, que não nega suas raízes, adora curtir um pagode, samba e as músicas da Anitta em seus momentos de lazer!
— Eu amo a Anitta, mas ouço de tudo! Eu vejo muita coisa da cultura brasileira e geralmente, no meu tempo livre, procuro restaurantes brasileiros, para me sentir enraizado.
*Estagiária sob a supervisão de Gabriela Germano.
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