Como treinos no interior de São Paulo ajudaram Italo Ferreira a vencer em piscina de Abu Dhabi

Italo Ferreira é elétrico. Parece estar sempre em movimento, saltitando para lá e para cá entre um gole e outro de café ou bebida energética. Pronto para entrar em ação. Num campeonato disputado em uma piscina, um ambiente controlado em que cada competidor surfa um número determinado e programado de ondas — e, no caso de Abu Dhabi, uma onda extensa, que exigia muito do preparo físico —, parece uma combinação letal. Seus adversários que o digam. A cada exibição ontem, o campeão mundial de 2019 e medalhista de ouro em Tóquio-2020 ia mostrando que ninguém seria capaz de derrotá-lo. Na final do Abu Dhabi Pro, Italo pode se dar ao luxo de “brincar” em suas duas últimas ondas, depois de já ter derrotado com tranquilidade o indonésio Rio Waida por 17,27 a 14,50 pontos.

Foi a décima vitória de Italo em uma etapa da World Surf League. O resultado o colocou na liderança do ranking. A próxima etapa será disputada de 15 a 25 de março, em Portugal.

O surfe explosivo e moderno de Italo Ferreira, com alto índice de acertos nos aéreos, parece feito a feição para as ondas perfeitas produzidas pelas máquinas nas piscinas. Curiosamente, porém, ele não teve bom desempenho nos primeiros campeonatos disputados no Surf Ranch, a piscina de ondas construída por Kelly Slater na Califórnia.

Com a abertura das primeiras piscinas de ondas no Brasil, Italo passou a treinar a exaustão, especialmente no Boavista Village, em Porto Feliz (SP).

— As vindas dele para cá ajudaram muito a fazer uma linha na onda, a não ser afobado, fazer a linha inteira. Ele evoluiu demais o surfe dele na piscina — diz Paulo Barcellos, que trabalha como fotógrafo e cinegrafista no Boavista.

Campeão mundial de bodyboard em 2000, Barcellos revela o tamanho da dedicação de Italo aos treinos:

— Já vi o Italo passar umas seis horas dentro da água, praticando em diversos tipos de ondas. Só saía para comer e logo voltava.

O resultado começou a aparecer em 2023, quando ele ficou em segundo lugar no Surf Ranch, perdendo para o americano Griffin Colapinto em uma final considerada bem polêmica.

Neste ano, em Abu Dhabi, o potiguar de 30 anos parecia sempre em uma rotação mais acelerada do que os demais surfistas, encaixando suas manobras com perfeição, entubando bem e voando com segurança para acertar os aéreos, elemento essencial para aumentar a pontuação.

Homenagem a Senna

Nas quartas de final, ele derrotou o japonês Kanoa Igarashi, rival na final dos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Nas semifinais, bateu o australiano Jack Robinson — que havia eliminado Yago Dora nas quartas de final — e na decisão liquidou Rio Waida logo na primeira sequência de ondas, uma para a direita e outra para a esquerda.

— Eu estava muito empolgado. Acordei hoje (ontem) e eu estava me movendo, preparando minha mente. Numa piscina de ondas, é sempre empolgante quando você tem a chance de mostrar sua performance. Você sempre vai mais forte ou mais alto, e foi o que fiz hoje — comemorou Italo.

Com a final já decidida, Italo aproveitou suas duas últimas ondas para se divertir e animar a torcida. Na direita, surfou de base trocada, posicionando o pé esquerdo à frente na prancha — algo como uma um canhoto escrever com a mão direita. Acertou algumas manobras e até entubou. Na esquerda, tentou um aéro muito alto, segurando uma bandeira do Brasil, numa homenagem a um grande ídolo nacional.

— É estilo Senna aqui. Lancei um Senna ali na esquerda. É um orgulho representar o Brasil, um país que tem grandes guerreiros, grandes histórias. Isso me motiva muito — disse ele em entrevista a TV Globo.

No feminino, a vitória foi da americana Caitlin Simmers, 19 anos, atual campeã mundial, em uma final emocionante contra a australiana Molly Picklum.

— Sinto que quando Molly e eu estamos lá fora nós rimos uma para a outra. É bem divertido, disse ela.

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